Recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a distribuição de medicamentos antirretrovirais para uma das populações com maior risco de contrair o vírus HIV deve ganhar seu primeiro grupo de pesquisa em Porto Alegre até o final do ano. Uma equipe de médicos viajará ao Rio de Janeiro nas próximas semanas para conhecer um projeto da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) junto a voluntários saudáveis, e então replicá-lo na capital gaúcha.
Serão chamados 50 voluntários homens homossexuais ou travestis não infectados pelo HIV. Porto Alegre está incluída no estudo por ser a Capital com maior incidência de HIV no Brasil, com 93,7 casos para cada 100 mil habitantes.
— Iremos avaliar a aceitabilidade e a adaptabilidade do método na população mais exposta ao risco de contágio — explica Ricardo Kuchenbecker, professor do programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFRGS e responsável pelo estudo no Estado.
A chamada profilaxia pré-exposição HIV consiste na distribuição gratuita de comprimidos com composto de antirretrovirais para dificultar a infecção pelo vírus.
— A profilaxia foi testada há três anos em um estudo liderado pelos Estados Unidos, que envolveu diferentes países, e mostrou que os indivíduos que tomam os comprimidos reduziram em até 96% o risco de contraírem o HIV. Agora, queremos ver como o método se aplica no Brasil — afirma Kuchenbecker.
Um dos desafios será observar o comportamento dos voluntários: se tomarão diariamente o medicamento e não deixarão de usar preservativo nas relações sexuais. Essa avaliação será feita por psicólogos que irão atender periodicamente os voluntários. Também haverá monitoramento do sistema imunológico e da incidência de efeitos colaterais.
O resultado dos estudos no Brasil — que, além de Porto Alegre e Rio de Janeiro, também ocorre em São Paulo — será observado pelo Ministério da Saúde. Serão avaliados 500 voluntários até o próximo ano. A expectativa é de que o Sistema Único de Saúde (SUS) passe a distribuir os medicamentos para grupos de risco para prevenir a aids. Em agosto do ano passado, ZH noticiou a distribuição preventiva de antirretrovirais como um projeto do ministério para reduzir a incidência no Brasil.
— Como pesquisa, a iniciativa é válida e importante. Mas não podemos abrir um precedente para que as políticas públicas trabalhem apenas para um suposto grupo de risco — pondera Célio Golin, secretário-geral do Nuances/Grupo pela Livre Expressão Sexual.
O receio de Célio é que um direcionamento de políticas públicas apenas aos homossexuais deixe de atender outros fatores de contágio, em particular que envolvem heterossexuais. Além disso, há rpreocupação com os efeitos colaterais da medicação no organismo, que pode causar enjoo, náuseas e, em quadros mais graves, comprometimento da atividade renal.
FONTE: Zero Hora