Comportamento viciado em videogame, sem controle de frequência e intensidade, pode representar um problema de saúde mental.
O vício em jogos de videogame passou a ser considerado pela primeira vez um distúrbio mental pela Organização Mundial da Saúde.
A 11ª Classificação Internacional de Doenças (CID) irá incluir a condição sob o nome de “distúrbio de games”. O documento descreve o problema como padrão de comportamento frequente ou persistente de vício em games, tão grave que leva “a preferir os jogos a qualquer outro interesse na vida”.
Alguns países já haviam identificado essa condição como um problema importante para a saúde pública.
Muitos, incluindo o Reino Unido, têm clínicas autorizadas a tratar o distúrbio.
A última versão da CID foi finalizada em 1992, e a nova versão do guia será publicada neste ano. Ele traz códigos para as doenças, sinais ou sintomas e é usada por médicos e pesquisadores para rastrear e diagnosticar uma doença.
O documento irá sugerir que comportamentos típicos dos viciados em games devem ser observados por um período de mais de 12 meses para que um diagnóstico seja feito. Mas a nova CID irá reforçar que esse período pode ser diminuído se os sintomas forem muito graves.
Os sintomas dos distúrbios incluem:
- -ão ter controle de frequência, intensidade e duração com que joga videogame;
- priorizar jogar videogame a outras atividades;
- continuar ou aumentar ainda mais a frequência com que joga videogame, mesmo após ter tido consequências negativas desse hábito;
Richard Graham, especialista em vícios em tecnologia no Hospital Nightingale em Londres reconhece os benefícios da decisão.
“É muito significativo, porque cria a oportunidade de termos serviços mais especializados. Ele coloca (esse distúrbio) no mapa como algo a ser levado a sério”.
Mas, para ele, é preciso tomar cuidado para não se cair na ideia de que todo mundo precisa ser tratado e medicado.
“Pode levar pais confusos a pensarem que seus filhos têm problemas, quando eles são apenas ‘empolgados’ jogadores de videogame”, afirmou.
Segundo Graham, ele vê cerca de 50 casos de vício em videogame surgindo por ano e seu critério é: o jogo está afetando atividades básicas, como comer, dormir, socializar ou ir à escola? Se a resposta for sim, então, pode ser um problema.
“O vício está dominando o estado real neurológico, o pensamento e as preocupações?” – de acordo com Graham, essa seria uma boa pergunta para fazer ao diagnosticar um paciente.
Em 2013, no Manual de estatísticas e diagnósticos de distúrbios mentais”(DSM, na sigla em inglês), o distúrbio relacionado a games e videogames era considerado “condição a ser estudada” – o que significa que ela não era oficialmente reconhecida.
Muitos países já adotam até mesmo medidas mais sérias para combater o problema. Na Coreia do Sul, o governo criou uma lei para proibir o uso de games por pessoas menores de 18 anos entre meia-noite e seis da manhã.
No Japão, os jogadores são advertidos caso passem mais do que uma certa quantidade de horas por mês jogando videogame e, na China, a gigante de tecnologia Tencent determina um limite de quantidade de horas que uma criança pode jogar.
Um estudo recente feito na Universidade de Oxford sugeriu que, apesar de as crianças no geral passarem cada vez mais tempo na frente das telas, isso não necessariamente representa vício.
“As pessoas acreditam que as crianças estão viciadas em tecnologia e nessas telas 24 horas por dia a ponto de abdicarem de outras atividades. Mas sabemos que esse não é o caso”, afirmou o pesquisador Killian Mullan.
“Nossas descobertas mostram que a tecnologia tem sido usada em alguns casos para apoiar outras atividades, como tarefas de casa, por exemplo, e não excluindo essas atividades das vidas das crianças”, disse ele.
“Assim como nós, adultos, fazemos, as crianças espalham o uso da tecnologia digital ao longo do dia, enquanto fazem outras coisas”, finalizou.