“Um doente tem mais probabilidade de morrer ao se internar num hospital do que no campo de batalha de Waterloo.”
Ao comparar os perigos hospitalares ao confronto que marcou a última batalha de Napoleão, o obstetra escocês James Young Simpson (1811-1870) não exagerou.
Quase um século e meio depois, os hospitais continuam sendo um ambiente cheio de riscos ao paciente, onde frequentemente ocorrem mortes e danos que poderiam ter sido evitados se houvesse uma cultura preventiva.
O marco dessa discussão ocorreu em 1999, quando o Instituto de Medicina dos Estados Unidos publicou o relatório “To err is human” (Errar é humano), em que estimou em até 98 mil as mortes evitáveis nos hospitais norte-americanos.
Em 2009, a OMS recomendou aos hospitais a adoção de um checklist antes das cirurgias, capaz de reduzir em 47% a mortalidade e as complicações. Perguntar o nome do paciente e qual órgão será operado estão entre as recomendações.
Vários países mantêm programas exitosos de segurança do paciente, alguns apresentados em junho no QualiHosp (congresso sobre qualidade nos serviços de saúde).
O Brasil acordou tarde para o problema. Só neste ano, em 1º de abril, é que o Ministério da Saúde lançou um programa para prevenir e reduzir erros dentro dos hospitais.
São muitas as barreiras pela frente, começando pelo fato de que é difícil implantar normas de segurança do paciente dentro do caos vivido pela maioria dos hospitais brasileiros, por problemas de má gestão e de subfinanciamento.
Também será preciso mudar a cultura hospitalar de esconder o erro por medo da punição. Sem buscar soluções preventivas, os problemas se repetem e se agravam.
É um caminho longo, mas urgente e necessário. Só assim notícias de criança morrendo por receber vaselina na veia em vez de soro vão parar de ocupar as páginas dos jornais.
Texto de Claúdia Colucci
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