A recente liberação da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para a comercialização de um novo inibidor de apetite reacende o debate em torno da utilização do medicamento no Brasil. Afinal, este tipo de produto está mais para vilão ou mocinho, ajuda ou prejudica o tratamento da obesidade? Segundo a endocrinologista do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, Vivian Estefan, a primeira opção é a que prevalece.
“Eles não têm nada de vilões. Muito pelo contrário. São medicamentos que auxiliam diretamente e com eficácia no emagrecimento do paciente”, afirma. Hoje, a obesidade atinge cerca de 50% da população, incluindo jovens e crianças em todo o território brasileiro. Mesmo vendo com bons olhos a decisão da ANVISA, a médica lembra que o novo inibidor tem o mesmo princípio de um conhecido remédio indicado para o tratamento de diabetes, já comercializado há muito tempo no País. “A diferença é que o novo remédio é focado no tratamento da obesidade. Diferente do que acontecia em alguns casos em que os médicos indicavam o remédio de diabetes para de ser usado para o emagrecimento”, esclarece.
A especialista ressalta, no entanto, que todos os medicamentos disponíveis hoje no mercado, seja para tratar obesidade, diabetes ou hipertensão, apresentam efeitos favoráveis como a melhora dos sintomas e o controle dessas doenças. Por outro lado, vão existir efeitos indesejáveis, colaterais e riscos à saúde. “A indicação tem que ser precisa e justificável. Prescrever esses inibidores requer um acompanhamento de perto do endocrinologista. Mas, no geral, os efeitos são compatíveis com a dosagem, ou seja, com doses mínimas os efeitos tendem a ser menores. Isso depende de cada organismo e tende a desaparecer com o uso em longo prazo.”
Apesar disso, a endocrinologista cita que entre os principais efeitos colaterais do inibidor liberado pela ANVISA, estão a dor de cabeça, provocada pela hipoglicemia; náusea e vômito, por conta da digestão mais lenta; diarreia ou mesmo prisão de ventre. São raros, mas podem ocorrer casos de pancreatite. Com relação às diferenças entre o novo remédio de tratamento para obesidade e o anterior é que o atual é injetável e apresenta um custo mais elevado, que pode chegar a R$400/mês.
Em termos de ação, o novo inibidor de apetite age no estômago, fazendo com que a digestão seja mais lenta. “Dessa forma, o paciente tem maior saciedade, o estômago fica cheio por mais tempo, comendo menos durante o dia”. Diferente do utilizado anteriormente, que age no sistema nervoso central, inibindo o apetite. “Com isso o usuário tem sensação de bem-estar, não sente fome constantemente e acelera o metabolismo”, pontua. Sobre o tão comentado “efeito sanfona”, a endocrinologista lembra que este aspecto não é uma verdade absoluta. “Durante os primeiros seis meses, período em que o medicamento é mais efetivo, o paciente passa por uma reeducação alimentar, ou seja, aprende a comer, mastigar e seleciona os alimentos. Então, mesmo após o término do tratamento por remédio, ele continuará com os novos hábitos e não recuperará o peso”, justifica.