A paralisação mais longa feita por médicos do INSS afeta a vida de milhares de brasileiros. Última negociação aconteceu no começo de dezembro.
Os médicos peritos já fazem a maior paralisação na história do INSS. São quatro meses parados. Milhões de brasileiros estão sem saber como pagar as contas. A última rodada de negociações foi no início de dezembro. De lá para cá, silêncio. É o que todo mundo se pergunta.
Pelas contas da Associação Nacional dos Médicos Peritos, foram quatro reuniões antes do início da greve e três durante esses quatro meses de paralisação. A última reunião entre governo e grevistas foi no dia 11 de dezembro. O resultado disso tudo? Nenhum. Não houve acordo. Aliás, resultado teve, sim, e tem: é trabalhador afastado, doente, sem dinheiro, que não recebe o auxílio-doença e quem já está bom e quer, mas não pode voltar ao trabalho.
O Marlon hoje está bem. Se recuperou do acidente de moto que sofreu em agosto, mas ficou cinco meses sem poder trabalhar. Ele tinha direito a receber auxílio-doença, só que com a greve dos peritos do INSS, até hoje não conseguiu fazer a perícia em São José do Rio Preto. Ficou esse tempo todo sem dinheiro.
“É terrível, eles só remarcam, remarcam e não têm previsão. Tem as contas, que sempre vêm, tenho a pensão para pagar”, queixa-se o frentista Marlon Spínola.
História triste e parecida com a do agricultor Aécio Fernandes, que mora perto de Brasília. Ele ficou com a visão prejudicada depois que teve um AVC, em setembro. Está afastado do trabalho e sem receber auxílio-doença porque só conseguiu marcar a perícia médica para terça-feira (5).
“Nós temos dificuldade muito grande em inclusive agendar, agora imagina receber”, reclama.
Com artrose e reumatismo, Geralda Silva, que trabalha com serviços gerais, é mais uma na angustiante fila de espera pela perícia. Disse que já remarcou o exame várias vezes.
“É muito difícil porque, como a pessoa vai sobreviver sem ter condições, sem dinheiro? Conta de água e luz meus filhos é que pagam”, diz Geralda.
Essa situação piora dia após dia. a greve dos médicos peritos já completou quatro meses e nesse período quase dois milhões de perícias deixaram de ser feitas em todo o país, nas contas do sindicato da categoria.
O INSS diz que esse número é um pouco menor: que são 1,3 milhão de perícias atrasadas desde o início da greve. Hoje, quem precisa desse atendimento médico tem que esperar 80 dias, em média. Antes, eram 20 dias. A perícia é exigida para se conseguir auxílio-doença, aposentadoria especial por invalidez ou mesmo para poder voltar ao trabalho depois da licença.
O INSS passou a descontar os dias parados dos grevistas, depois que o Superior Tribunal de Justiça anulou uma decisão que impedia o corte do ponto.
A Associação dos Peritos diz que está mantendo o atendimento mínimo de 30% exigido por lei. Os médicos reivindicam aumento salarial de 27,5% e redução da jornada de trabalho de 40 para 30 horas semanais. Mas a negociação está emperrada.
“Infelizmente, nós não temos previsão do fim da greve porque o governo que aí está não quer negociar, ele se recusa a negociar”, afirma Luiz Carlos Argolo, diretor sindical da Associação Nacional dos Médicos Peritos da Previdência.
O impasse continua e o governo não explicou quais os próximos passos, o que mais pretende fazer para tentar pôr fim à greve. Enquanto isso, segurados, como o taxista Edison Benedito Vilalba dependem da ajuda de amigos para continuar tendo o que comer em casa.
“A minha maior preocupação é com o que vai ser o amanhã para a minha família, para nós”, diz Edison.
O INSS diz que, quando forem liberados, os benefícios vão ser pagos retroativos à primeira data de agendamento do segurado.
E o Ministério do Planejamento informou que até pode concordar com a redução da jornada de trabalho dos peritos, mas que propõe criar um comitê gestor para discutir o assunto em seis meses.
O governo não informou se vai entrar na Justiça para pedir que a greve seja considerada ilegal.
Fonte: G1