Aprovada recentemente pelo FDA, a combinação de medicamentos que reduz em 38% o risco de morte, ainda não está disponível no SUS ou planos de saúde.
Câncer de mama triplo-negativo é relativamente raro, e constitui o subtipo mais grave dos cânceres de mama. Isso porque não apresenta três alvos que normalmente são atacados pelos tratamentos convencionais: receptores de hormônios (estrogênio ou progesterona) e proteína HER2. Ainda que existam quimioterápicos tradicionais que têm algum grau de atividade contra a doença metastática, o controle é pouco duradouro e a expectativa de vida das pacientes é menor que dois anos.
No último dia 8 de março, o FDA, órgão regulatório do setor de medicamentos nos Estados Unidos, aprovou combinação terapêutica que traz primeiro avanço importante em décadas no tratamento desse subtipo de câncer de mama por imunoterapia. A aprovação é baseada no estudo IMpassion 130, que randomizou mulheres com câncer de mama metastático triplo-negativo na primeira linha para receberem tratamento com nab-paclitaxel e placebo ou o mesmo nab-paclitaxel acrescido de atezolizumabe, um imunoterápico moderno.
“O resultado mais impressionante e animador foi a redução de 38% no risco de morte, representando um ganho de 10 meses em termos de sobrevida, no grupo que recebeu atezolizumabe. A toxicidade do tratamento foi leve em ambos os grupos de tratamento, com ou sem imunoterapia, explica Sergio Simon, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.
Em face da importância do resultado, o estudo foi simultaneamente publicado na mais renomada revista científica médica, o New England Journal of Medicine. Posteriormente novos dados sobre biomarcadores e sobrevida global foram apresentados no tradicional Simpósio de Câncer de Mama de San Antonio em dezembro nos Estados Unidos, confirmando o benefício da imunoterapia.
Dado o histórico de tratamento, a dificuldade de acesso no Brasil a novas tecnologias e a relevância dos resultados preliminares do estudo, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) vê fundamentos científicos para solicitar celeridade na aprovação pelas autoridades regulatórias brasileiras da combinação de nab-paclitaxel e atezolizumabe para pacientes com esse tipo raro de câncer de mama no Brasil. O nab-paclitaxel e o atezolizumabe foram aprovados em 2017 para outros tipos de tratamento de câncer, mas até o momento não há cobertura pelo SUS nem pelos planos de saúde.
“Acreditamos que os ganhos para os pacientes com a aprovação da nova combinação, seguindo decisões internacionais como a do FDA, serão enormes”, defende Sergio Simon. “Em tempos de medicina de precisão e de tratamentos de alto custo, é de extrema importância assegurar o controle de qualidade na identificação das pacientes triplo-negativo e treinamento dos patologistas para garantir acesso ao melhor tratamento a quem de fato pode ser beneficiado por ele”, completa.
Fonte: Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica