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Costuma ter sono durante o dia?

Quando não tratadas, as doenças do sono podem levar a acidentes graves, complicações médicas como hipertensão ou AVC e aumentar o risco de demência.

Ter frequentemente sono e adormecer durante o dia pode ser sintoma de uma doença grave do sono. A chamada Sonolência Diurna Excessiva (SDE) é diferente do “cansaço” ou “fadiga mental” associados a perturbações mentais ou após um longo dia de trabalho — as pessoas com SDE sentem uma necessidade muitas vezes irresistível de dormir durante o dia, acabando por adormecer nas mais variadas circunstâncias.

Por exemplo, se lhe acontece frequentemente adormecer quando está sentado a ler ou a ver televisão, numa sala de espera, ou até mesmo enquanto conduz ou está a falar com alguém, é provável que sofra de SDE.

Naturalmente, adormecer ao volante é mais “grave” do que adormecer sentado no sofá a ver um filme particularmente aborrecido. Se quiser ter uma ideia da gravidade da sua sonolência diurna, teste-se a si próprio com a Escala de Sonolência de Epworth (ver a tabela). Se pontuar acima de 10, sugiro que continue a ler este artigo.

Se acabou de descobrir que sofre de SDE, tenha calma. Na larga maioria das situações, é causada por maus hábitos de sono. Dormir poucas horas à noite, acordar várias vezes ou ter um ritmo de sono desregulado (por exemplo, pessoas que trabalham por turnos ou sofrem de jet lag) são os suspeitos do costume. Melhorar estes hábitos pode ser o suficiente para resolver a sonolência diurna e fazê-lo sentir-se mais enérgico e bem-disposto.

No entanto, algumas pessoas podem sofrer de SDE apesar de acreditarem dormir bem durante a noite. São estas pessoas que podem ter doenças do sono que passam frequentemente despercebidas. Vou falar-lhe de duas dessas doenças: a apneia do sono e a Síndrome de Movimentos Periódicos dos Membros (SMPM).

Na apneia do sono, o doente tem dificuldade em respirar durante a noite. Na apneia do sono do tipo obstrutivo (ASO), a mais comum, a respiração é dificultada ou interrompida por um bloqueio nas vias aéreas — por exemplo, um relaxamento da língua e do palato pode levar à interrupção momentânea da passagem de ar.

Quando o nível de oxigênio no sangue desce, o cérebro entra em “estado de alerta” e interrompe o sono. Este curto despertar pode passar despercebido ao doente, que continua convencido que dormiu continuamente a noite toda. As pessoas que dormem com doentes com ASO queixam-se habitualmente que o parceiro ressona muito ou aparenta “deixar de respirar” durante a noite.

De manhã, o doente pode queixar-se de dores de cabeça e ter problemas de concentração e falta de memória. Fatores de risco para ter ASO incluem obesidade, consumo de álcool ou outras substâncias relaxantes à noite e problemas na estrutura da garganta ou nariz. A apneia do sono do tipo central é mais rara e é causada por problemas no mecanismo interno de regulação da respiração durante o sono — está associada a doenças neurológicas, consumo de substâncias (como a heroína) ou problemas graves no coração.

Os doentes com SMPM apresentam movimentos involuntários (geralmente, das pernas) enquanto dormem. Tipicamente ocorrem na primeira metade da noite e surgem com 20 a 40 segundos de intervalo e em períodos que podem durar entre alguns minutos a horas. Estes movimentos causam breves despertares e fragmentam o sono, impedindo que o doente descanse adequadamente. Os companheiros de cama podem queixar-se que o doente “anda de bicicleta” durante a noite ou lhes dá pontapés.

Muitas vezes o próprio doente não sabe que mexe as pernas enquanto dorme. Esta doença não deve ser confundida com a Síndrome das Pernas Inquietas (apesar de poderem coexistir) — as pessoas com Pernas Inquietas (SMPM) apresentam sintomas também durante o dia, nomeadamente uma necessidade irresistível de mexer as pernas, que alivia com o andar. Em muitos casos não se sabe a causa da SMPM. Pode surgir em pessoas com problemas neurológicos (como doença de Parkinson) ou que tomam certos medicamentos (por exemplo, antidepressivos).

Felizmente, estas doenças podem ser diagnosticadas e tratadas, desde que os clínicos estejam alerta para a sua presença. Uma polissonografia (monitorização do sono com registo de vários parâmetros, geralmente feito enquanto o doente dorme num laboratório de sono) pode evidenciar as paragens respiratórias ou os movimentos anômalos.

A ASO pode ser tratada com recurso a uma máquina que ajuda a respirar durante a noite, e a SMPM pode responder favoravelmente a certos medicamentos, ou a um ajuste da medicação que a possa estar a causar.

Geralmente, o tratamento leva a uma melhoria do sono noturno e à resolução da sonolência, com um substancial aumento da qualidade de vida do doente. Quando não tratadas, podem levar a acidentes graves (por exemplo, adormecer ao volante), complicações médicas como hipertensão ou AVC e aumentar o risco de demência.

As doenças do sono afetam muito o nosso bem-estar durante o dia, passam muitas vezes despercebidas e são potencialmente tratáveis, com bons resultados. Portanto, se se identificou com o que leu aqui, fale com o seu médico.

Fonte: Publico PT

Sobre Priscila Torres

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O diagnóstico de uma doença crônica, em 2006, me tornou, blogueira e ativista digital da saúde. Sou idealizadora do Grupo EncontrAR e Blogueiros da Saúde. Vice-Presidente do Grupar-RP, presidente do EncontrAR. Apaixonada por transformação social, graduanda em Comunicação Social "Jornalismo" na Faculdades Unidas Metropolitanas.

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