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Nem sempre o futebol e a saúde andam de mãos dadas, infelizmente

Muitos são os casos em que os futebolistas se viram forçados a abandonar o futebol, por motivos de saúde.

O futebol, tal como todos os desportos, é sinônimo de saúde. Porém, a vida prega partidas e existem vários casos em que jogadores viram-se forçados a pendurar as chuteiras precocemente, por motivos de doença. Portugal não foge a esta situação e o falecimento de Edu Ferreira foi o episódio mais recente de uma infeliz história do desporto rei, que perdeu mais um dos seus protagonistas.

Bernardo Tengarrinha é um dos casos em que o futebol teve que ser colocado de parte. Aos 28 anos, o ex-médio suspendeu a carreira de futebolista, devido a sofrer de um linfoma de Hodking (tumor nas células do sistema imunológico). Formado no FC Porto e no Benfica, Tengarrinha detetou o problema quando estava ao serviço dos romenos do Politehnica Iasi, clube para o qual se transferiu proveniente do Boavista, a meio da época passada.

Não apenas a saúde física, mas também a mental merece destaque para o Sindicato de Jogadores Profissionais de Futebol. O organismo lançou um projeto que tem como primordial intuito auxiliar todos aqueles que sofram de perturbações mentais e outros tipos de doença. O embaixador do programa é Tengarrinha, acima referido, que funciona como a ligação entre a instituição e os jogadores. “Sinto-me orgulhoso por fazer parte deste projeto e de integrar a família do Sindicato de Jogadores. A partir de agora os jogadores têm um canal próprio dentro do Sindicato onde podem relatar os seus problemas mentais, contando com técnicos especializados que os podem ajudar”, referiu Tengarrinha na conferência de imprensa de lançamento do projeto, em outubro.

Abordando mais pormenorizadamente os problemas de foro mental, Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato de Jogadores, apelou para que os atletas que sofram desta tipo de situações não tenham ‘vergonha’ em chegarem-se à frente. “Os jogadores têm tendência para se isolarem, sentem vergonha em revelar os seus problemas. Acabam por cair no isolamento e, em muitos casos, nem interagem com os familiares e amigos mais chegados.” Mas, voltemos agora à saúde dita física…

Fábio Faria ‘traído’ pelo coração

Outrora apontado como um dos mais promissores defesas portugueses, Fábio Faria teve que colocar um ponto final na carreira quando tinha somente 23 anos de idade. Os motivos? Problemas cardíacos… Em 2013, o antigo defesa anunciou o abandono do desporto rei, numa decisão que “custou”. “Custou muito esta decisão, mas tive o apoio dos meus pais, da minha namorada, do Benfica, do Rio Ave, do meu empresário e do sindicato. (…) A vida é assim. Os últimos exames não correram tão bem como esperávamos”, referiu Fábio Faria numa conferência de imprensa levada a cabo nesse momento para comunicar a retirada.

Então emprestado pelo Benfica ao Rio Ave, clube no qual foi formado e que mais representou, Fábio Faria viu chegar ao fim a carreira como futebolista. A 4 de fevereiro de 2012, num encontro da Taça da Liga entre os vilacondenses e o Moreirense já o ex-jogador tinha sido vítima de uma indisposição, sendo-lhe posteriormente diagnosticada uma anomalia cardíaca. Desde aí, não mais jogou…

Porém, a vida não acaba pós-futebol. Nos dias que correm, Fábio Faria trocou os pés pelas mãos e é designer de moda, tendo criado duas marcas de roupa, que se encontram à venda em Portugal, Espanha, França, Suíça, Chipre e Luxemburgo. Aliada à nova carreira, o ex-jogador está também a terminar o curso de Gestão Desportiva e o desporto rei continua a falar mais alto para um futuro a longo prazo. “Espero um dia regressar ao futebol noutras funções. Acho que tenho ganho experiência e treinador poderá ser um posto que me agrade”, revelou Fábio em declarações à “RTP”, divulgadas este ano.

Fábio Faria identificou, ainda, os inícios de épocas como os momentos mais difíceis que experiencia hoje em dia. É nesses dias que os amigos mais chegados partem de regresso para os respetivos clubes, mas Fábio já não o pode fazer…

Rui Luís perdeu passos na carreira, mas foi a tempo de recuperá-los

Rui Luís Ferreira Machado Silva, jogador do São Martinho (Santo Tirso), foi diagnosticado com a doença de Crohn, em 2013, quando alinhava no Tirsense, nos primeiros anos de sénior. Com formação feita em clubes como o FC Porto e o SC Braga, Rui viu-se, assim, impedido de calçar as chuteiras por algum tempo na carreira.

“Estava a perder peso. Após o jogo contra o Varzim, dos poucos que fiz, saí ao intervalo. Percebi que a situação era insustentável. Não podia continuar com 49 quilos. Fui fazer um exame e dois dias depois foram buscar-me ao treino. Era a apresentação do novo treinador e o fisioterapeuta veio falar comigo a dizer que o meu pai estava à minha espera. Tinham-lhe ligado do hospital de São João a dizer que tinha de ser internado. Fiquei assustado porque não conhecia a doença”, confidenciou o médio numa entrevista ao portal “Mais Futebol”, datada de outubro deste ano.

Rui Luís conheceu a falta de oportunidade que alguém que é ‘traído’ pela saúde pode conhecer no desporto rei. “A médica disse-me que o primeiro ano e meio seria difícil, mas que depois ia conseguir ter uma vida saudável e jogar futebol. Não fiz a pré-época e acabaram por me fechar algumas portas. Algumas pessoas que me costumavam ajudar a arranjar clube.. Nunca mais ouvi falar delas”, atestou ao portal acima referido.

Após vários altos e baixos, um “tratamento biológico resultou em pleno” e Rui Luís não mais teve dores. “Tenho que ter cuidado com a alimentação, claro. Tudo isso deu-me qualidade de vida.” Rui Luís ultrapassou essa fase da vida e regressou ao futebol pela porta do São Martinho, que lhe ‘deu a mão’ quando ele mais precisava e no qual já joga há quatro temporadas consecutivas. Em 2017/18, são já 16 os jogos que leva passados dentro das quatro linhas. “Demorei a ganhar peso e confiança no meu jogo, mas passados alguns meses, estava como antes. Até fiz dois golos no jogo da subida. Agora sinto-me útil”, eis palavras de Rui Luís.

Edu Ferreira e o ‘29’ que o Boavista quer retirar

O caso mais recente que o futebol português conheceu foi o de Edu Ferreira, que faleceu no domingo, aos 20 anos, vítima de um tumor no fémur da perna direita. A doença foi diagnosticada no início da época 2016/17, pouco tempo após ter subido à equipa principal do Boavista, situação que o levou, nesse momento, a colocar em pausa a carreira no futebol. A equipa axadrezada tinha renovado o contrato de Edu até ao final da temporada 2018/19, num dos gestos mais marcantes desta época.

O Boavista já deu conta de que pretende retirar o número ‘29’ de utilização na equipa principal, como forma de homenagem simbólica a Edu Ferreira, que era portador da camisola quando subiu ao conjunto principal. Assim sendo, alguma da imprensa desportiva portuguesa já avançou que os axadrezados apresentaram um pedido à Liga Portuguesa para que o número de Leonardo Ruiz seja trocado, pois o jogador utiliza atualmente esse dorsal. O jornal “O Jogo” referiu que Ruiz estaria de acordo em trocar, ou seja, agora a situação está nas mãos da Liga. Prontamente, o Boavista vai expor a camisola de Edu Ferreira no museu do clube.

“É um momento duro. Gostava de agradecer todas as manifestações de carinho e de solidariedade que muitas entidades, personalidades e pessoas anónimas manifestaram ao Edu e ao Boavista. Ele era um rapaz bom e tenho a certeza absoluta que onde estiver está contente pela manifestação de solidariedade que sentiu. É mais uma estrela que está no céu, estamos contigo Edu”, referiu o presidente do Boavista, João Loureiro, nesta quarta-feira, aquando do funeral de Edu Ferreira, em declarações à comunicação social.

Este foi mais um caso em que o futebol perdeu a batalha com a saúde e o desporto rei ficou mais pobre. Edu Ferreira deixou saudade no Bessa e perdurará na memória do futebol português. O futebol e a saúde nem sempre andam de mãos dadas, infelizmente…

Fonte: https://bancada.pt/futebol/opiniao/nem-sempre-o-futebol-e-a-saude-andam-de-maos-dadas-infelizmente

Sobre Priscila Torres

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O diagnóstico de uma doença crônica, em 2006, me tornou, blogueira e ativista digital da saúde. Sou idealizadora do Grupo EncontrAR e Blogueiros da Saúde. Vice-Presidente do Grupar-RP, presidente do EncontrAR. Apaixonada por transformação social, graduanda em Comunicação Social "Jornalismo" na Faculdades Unidas Metropolitanas.

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