As pessoas que reservam apenas o fim de semana para fazer atividades físicas podem comemorar. Um novo e amplo estudo comprova que quem se exercita apenas uma ou duas vezes a cada sete dias alcança quase tantos benefícios quanto quem faz o mesmo volume de esforço, mas ao longo de várias sessões na semana. Se comparados aos totalmente sedentários, esses dois perfis de indivíduos conseguem praticamente a mesma taxa de redução de risco de morte, indica a pesquisa publicada no “JAMA Internal Medicine”, periódico da Associação Médica Americana. O recado é claro: movimentar o corpo, ainda que uma vez na semana, já reduz significativamente os problemas de saúde.
Milhões de pessoas gostam de fazer esporte uma ou duas vezes por semana, mas elas podem estar preocupadas de não estarem fazendo o suficiente — comentou Gary O’Donovan, pesquisador de atividade física da Universidade de Loughborough, no Reino Unido, e autor do estudo. — Mas agora encontramos um benefício claro. O exercício somente uma ou duas vezes na semana é capaz de deixar as pessoas saudáveis.
O estudo analisou dados de mais de 60 mil adultos de meia idade entre 1994 e 2012. Neste período, quase 9 mil deles morreram, por diferentes razões. Ao longo da pesquisa, os participantes seguiram a recomendação mínima dos órgãos internacionais de saúde: 150 minutos semanais de atividade física moderada ou 75 minutos de atividade intensa. Eles variaram apenas a frequência com que realizavam os exercícios.
Os pesquisadores chegaram à conclusão de que, enquanto aqueles que se exercitaram várias vezes ao longo da semana tiveram uma redução de 35% no risco de morte, os participantes que fizeram apenas uma ou duas sessões alcançaram redução de 30%. O índice é sempre estimado em relação ao risco apresentado por quem é completamente sedentário.
A probabilidade de morrer especificamente por doença cardiovascular foi ainda mais parecida: um risco 41% menor para quem se exercitou mais vezes, e 40% menor para os “guerreiros de fim de semana”, como define o estudo. Já a redução no risco de morte por câncer foi de 21% para quem fez atividades com frequência, e 18% para adeptos de exercícios intensos uma ou duas vezes por semana.
Mas o estudo também mostra que as pessoas que conseguiram aumentar a duração e a intensidade de suas atividades afastam ainda mais o risco de morte. Portanto, não se pode achar que 150 minutos de atividade moderada ou 75 minutos de intensa são o ideal, adverte um dos maiores especialistas do Brasil em medicina do exercício, o professor e cardiologista Claudio Gil Araújo, da UFRJ.
— Isto é o mínimo recomendado, e o que este novo estudo traz é a confirmação de que, mesmo que essa carga de atividade seja realizada em apenas um dia, os benefícios já são relevantes. No entanto, a quantidade ótima de exercício para um adulto de cerca de 40 anos é de duas a três vezes essa dose mínima, o que daria pelo menos duas horas e meia de atividade intensa ou cinco horas de atividade moderada por semana — explica o especialista.
Alguns médicos defendem que praticar atividades físicas somente aos fins de semana pode provocar um estresse oxidativo das células, trazendo prejuízos para o organismo, mas, segundo Claudio Gil, a teoria nunca foi comprovada. Nem cientificamente, nem na prática clínica.
— O que temos visto é que qualquer exercício, mesmo que longe do ideal, é melhor do que nada. A pior opção que uma pessoa pode fazer para a vida é ser sedentária — pondera ele.
O médico ressalta que a intensidade do exercício é mais importante do que a frequência. Então, é preferível levar menos tempo na atividade, mas fazê-la de modo intenso — como um spinning ou uma corrida rápida —, do que realizar uma atividade demorada, mas leve. Isto já foi analisado ao longo de um estudo publicado ano passado na revista “PLoS One”, mostrando que um minuto de exercício vigoroso pode ter o mesmo efeito de até 45 minutos de atividades moderadas.
— Exercícios intensos proporcionam benefícios específicos para a glicose e o colesterol. Se compararmos duas pessoas que perdem a mesma quantidade de calorias por semana, mas fazem exercícios de intensidade diferente, aquela que se exercita de forma mais intensa sem dúvidas estará com o organismo mais equilibrado — exemplifica Claudio Gil. — Mas temos que lembrar que, na realidade brasileira, com o calor que está fazendo neste verão, por exemplo, praticar atividades apenas no final de semana sob o Sol do meio-dia não é a melhor opção.
Para aqueles que incluíram a prática de exercícios físicos nas resoluções de ano novo, o autor da nova pesquisa recomenda começar com atividades moderadas, como uma caminhada rápida, para, a partir daí, estabelecer metas cada vez mais exigentes. Ele ressalta que é preciso ser realista para não correr risco de lesões.
— Uma pessoa de meia idade ou idosa deve fazer até 12 semanas de exercício moderado antes de introduzir qualquer exercício vigoroso — aconselha O’Donovan.