Hoje, estima-se que 425 milhões de pessoas convivam com o diabetes em todo o mundo, com tendência de chegar a 629 milhões até 2045. Só no Brasil, a doença cerca de 16 milhões de pessoas, segundo dados do Atlas do Diabetes.
A pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), feita pelo Ministério da Saúde, apontou que o percentual de indivíduos com diabetes que informaram realizar tratamento medicamentoso da doença aumentou de 79,1% em 2016 para 88,7% em 2018.
Houve aumento de mais de 300% no número de medicamentos dispensados para o Diabetes Tipo 2 entre 2011 e 2018: de 673.096.463 para 3.246.320.924.
No entanto, mais da metade dos diabéticos não consegue manter seus níveis de açúcar controlados e um número ainda maior não alcança a meta principal de controlar o diabetes, a hipertensão e o colesterol, premissas fundamentais para reduzir as nefastas consequências da doença.
Isso ocorre porque muitos não tomam as medicações com regularidade ou pelo fato de não mudarem seu estilo de vida. O resultado é um número gigantesco de amputações, problemas na retina que pode levar à cegueira, problemas renais e cardíacos. No Brasil existem hoje cerca de 100 mil pessoas fazendo hemodiálise ou transplante renal, a maior parte por conta do diabetes.
Os dados são alarmantes. Paralelamente a isso, a obesidade – que cresceu 60% em dez anos é um fator de risco para o Diabetes Tipo 2.
Na área médica já é consenso que as duas doenças crônicas serão as próximas epidemias globais, devido ao crescimento de novos casos e a dificuldade no controle.
O tratamento clínico desses pacientes, com medicamentos orais e injeções de insulina, permite o controle do índice glicêmico, desde que seja seguida dietas rigorosas, prática de exercícios físicos, redução no consumo de álcool e tabaco. Essas medidas, como já dissemos, são essenciais, mas difíceis de serem levadas à risca por muitos pacientes, o que prejudica a aderência ao tratamento a longo prazo.
Além disso, a insulina e outros medicamentos utilizados podem provocar aumento de peso, condição que também dificulta a normalização dos níveis de glicose no sangue.
Na faculdade de Medicina, aprendemos que o Diabetes é uma doença crônica e incurável, mas cirurgiões bariátricos descobriram que pacientes diabéticos submetidos à cirurgia para tratamento da obesidade apresentaram remissão* da doença dias após o procedimento. Foi então que surgiu o conceito de cirurgia metabólica.
Pesquisas científicas no Brasil e no mundo comprovam estes dados. Em abril, o The New England Journal of Medicine publicou estudos randomizados com pacientes diabéticos em que um grupo foi tratado clinicamente e outro encaminhado para a cirurgia bariátrica e metabólica. Após dois anos, o grupo submetido à cirurgia havia emagrecido entre 25 a 29 quilos, enquanto os tratados clinicamente perderam em média 5,4 quilos, e a remissão completa do diabetes ocorreu em 95% dos pacientes operados com a técnica de Bypass Gástrico, enquanto nenhum paciente tratado apenas com medicamentos apresentou tal resultado.
Outro estudo, mais aprofundado, publicado pelo The Journal of the American Medical Association (JAMA) em setembro, avaliou os resultados dos pacientes após oito anos de acompanhamento. Além dos efeitos de controle do diabetes, a cirurgia metabólica promoveu redução em 61% de infartos, 62% de insuficiência cardíaca, diminuiu em 60% os riscos de doença renal crônica e reduziu em 41% a mortalidade.
Em uma população de 13,6 milhões de obesos, o Brasil fez apenas 60 mil cirurgias, cerca de 0,47% da população obesa elegível à cirurgia bariátrica e metabólica, no último ano.
É com base nestes dados, e na experiência adquirida em mais de 20 anos, que a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) não tem medido esforços em busca da democratização do acesso ao tratamento cirúrgico para brasileiros obesos e diabéticos na saúde pública e suplementar.
Neste ano, lançamos uma campanha intitulada “Vida Nova Metabólica” para informar a população sobre esta ferramenta eficaz para o tratamento do Diabetes Tipo 2.
Além disso, promovemos audiências públicas com entidades médicas e no Congresso Nacional para debater o acesso pelo sistema público ao procedimento. Outro passo importante foi protocolar o pedido de inclusão da cirurgia metabólica no Rol de Procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para cobertura via planos de saúde.
Desta forma, entendemos que estamos dando um grande passo para que pessoas que sofrem com o Diabetes Tipo 2 e as suas consequências tenham a possibilidade de optar por um tratamento seguro e eficaz, comprovadamente.
Dr. Marcos Leão Vilas Bôas
Presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica
*Remissão é o termo utilizado para designar a fase em que não há sinais de atividade da doença, mas não é possível considerar como cura.
Fonte:Assessoria de imprensa.